Muito estes dias nos têm feito pensar. Um pensamento diferente. Atípico. Arrisco-me até a dizer que nos tem gerado um pensamento mais lento, mais demorado, mais profundo.
Um pensamento que se estende para além da razão, do pensamento racional, pois, queiramos ou não, ninguém, ou muito poucos, conseguem ficar “indiferentes” e não “sentir” uma imensidão de emoções quando olhamos para o Mundo e para os efeitos da atual pandemia com que nos deparamos, gerando assim pensamentos que aliam a nossa razão com a emoção.
E convenhamos, é importante termos consciência e alimentarmos esta dicotomia complementar entre razão e emoção quando processamos o contexto global atual, pois permite-nos, por um lado, sentir e estar mais sensíveis e solidários ao outro (e para nós próprios) bem como, simultaneamente, nos permite estar aptos a realizar uma “análise critica” da situação, definir planos de ação adaptados ao contexto e, não menos importante, escolher como queremos agir e reagir.
Sim, leu bem, escolher como queremos agir e reagir.
Hoje, a boa notícia é: Temos o poder de decidir como agir e reagir perante as situações / eventos de vida!
Exemplos? Vamos a eles! Vejamos a situação de isolamento social / confinamento.
Perante esta inevitabilidade atual, que chegou tão abruptamente como a covid-19, alguns de nós ficámos presos aos projetos profissionais que perdemos ou que foram adiados sem data de retorno pela impossibilidade de contacto social, revoltados e a “remoer” nos factos que não controlamos. Outros de nós, ficámos presos ao “pânico” de ficar em casa confinados entre 4 paredes (sozinhos ou com as companhias “da casa” e, pior ainda, sem cão para passear!), de tal forma que quase nos sentimos asfixiados ou à beira de um ataque de nervos. Por mais que tentemos, qualquer iniciativa parece demorar horrores até a conseguirmos iniciar ou acabamos simplesmente por nos render à apatia e inércia que nos provocam ao longo de mais um dia. E ainda há outros que, não conseguindo desligar das notícias ao minuto, estão agarrados na armadilha do medo e da insegurança que toda a informação e o contexto exaltam, bloqueando a ação e a iniciativa enquanto processam, morosamente, a informação detalhada do momento.
Porém, alguns de nós, decidimos a dado momento desta pandemia dizer “chega!” ao medo, à negatividade e ao bloqueio gerado por situações semelhantes às acima descritas. Tomámos consciência das armadilhas em que estávamos presos e decidimos optar por canalizar toda esta “energia” em algo mais construtivo e positivo.
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Não significa com isto que não tenhamos medo, ou que estejamos despreocupados, ou altamente produtivos e 100% focados em atividades mega relevantes ou até mesmo que estejamos alheios ao que se passa à nossa volta, em Portugal e no Mundo. Muito pelo contrário.
É precisamente no momento em que aceitamos que não controlamos tudo que a “ficha caí”.
De facto, não controlamos muitas das variáveis que nos ocupam a mente e nos inibem a ação e até nos tiram o sono… mas controlamos algo que é a diferença que faz toda a diferença. Controlamos a nossa mente, os nossos pensamentos, a forma como interpretamos a informação e o espaço que lhe damos para influenciar a nossa atitude e a nossa capacidade de reação.
Ou seja, apesar de todo o contexto, da dimensão e impactos da pandemia instalada, cada um de nós tem o poder de escolher como reagir e agir perante os factos. O poder de decidir permanecer “preso” nas armadilhas do medo, da inércia e da incerteza, bem como tem o poder de decidir transformar toda a negatividade em combustível para uma atitude mais construtiva, uma atitude que promove novas interpretações da realidade, novos caminhos e que cria oportunidades num contexto de tão grande adversidade.
Como? Esta é a pergunta.
E a resposta é simples, não sendo simplista… Todos os dias, em todas as ocasiões, eu devo estar mais atento e consciente da minha atitude perante os factos. E de como reajo aos mesmos. Estou preso no problema? No negativo? Consigo ver um lado bom? Permito-me focar nas soluções e não apenas nos problemas? Aceito a mudança? Estas são algumas das questões que nos ajudam a aumentar a consciência sobre a nossa atitude. E ao desenvolvermos uma maior consciência sobre nós e sobre a nossa reação à adversidade, vamos conseguir agir, influenciar, reprogramar e adaptar a nossa atitude de forma mais construtiva e positiva para todos.
Por exemplo, perante o facto de termos de ficar em casa, com projetos adiados, cancelados, sem certeza do dia de amanhã, do que será a realidade profissional pós covid-19, da situação financeira e económica incerta, podemos deixar-nos ir pelo medo e pela insegurança permitindo que a nossa mente se ocupe maioritariamente dos problemas. Em alternativa, conscientes dos factos e dos seus impactos, podemos optar por nos focar na procura de soluções, em criar novos caminhos, novas formas de fazer e de dar resposta às fatalidades ou aos desafios que o contexto nos apresenta. É um caminho que começa em mim, em cada um de nós.
É fácil? Ninguém diz que sim, e eu sei por experiência que não, mas é uma escolha. É a nossa escolha. É a escolha consciente que fazemos todos os dias, a toda a hora. E quando nos apercebemos que estamos de novo a cair na armadilha, voltamos a decidir sair dela… e assim vamos andando e reforçando a nossa capacidade de decidir ter uma atitude mais construtiva e positiva perante a adversidade.
Tal como uma ida ao ginásio, um dia depois do outro, vai custando cada vez menos… e vamos ficando cada vez mais fortes. Dia após dia. Treino após treino.
E como diz o alpinista Português João Garcia “Treina que isso passa!”
E recordo, cada um de nós tem o poder de decidir como agir e reagir perante as situações / eventos de vida. É uma escolha. A cada momento. Faça a sua.
Maria João Figueiredo
Managing Partner @ IN2ACTION